Hoje gostava de focar um tema que habitualmente é ignorado pela maioria dos vendedores.
Com o advento da internet, cada vez mais os clientes têm a informação literalmente na ponta dos dedos.
Antigamente, como a informação não estava disponível, os clientes eram obrigados a solicitar reuniões com os vendedores, muitas vezes sem outro foco que não fosse obter formação gratuita sobre as soluções.
Hoje em dia, como a maioria da informação está disponível na internet, a maioria dos clientes está a borrifar-se para as reuniões e só nos chama quando necessita mesmo de pedir uma proposta ou esclarecer algo um pouco mais complexo.
Se nos colocarmos do lado do cliente, isto até faz um certo sentido, dado que torna o processo mais eficaz e menos permeável à influência que o vendedor pode criar.
Muitos dos vendedores com quem trabalhamos nos programas integrados de formação e coaching comercial reportam-nos que hoje em dia, no seu sector, quase já não veem os verdadeiros clientes.
Eles estão lá, mas não se dão a conhecer a não ser na fase mesmo final do processo.
O que é normal é analisarem as soluções disponíveis, coligirem a informação, selecionarem 2 ou 3 e passarem o processo para as compras para eles pedirem preços e espremerem os mais incautos.
Mas pergunta, e bem, como é que nós vendedores podemos lidar com estas situações?
A questão coloca-se a vários níveis.
O primeiro nível que temos de analisar tem a ver com a falta de tempo ou por vezes preguiça que o vendedor tem para aprender mais a fundo sobre as suas soluções.
Imaginem o que é chegarmos a um cliente para uma reunião e muitas vezes ele saber muito mais do que nós sobre o que estamos a vender.
Se apanharem alguns perfis um pouco mais complexos, digamos difíceis, provavelmente irão gozar o prato e fazer de vocês gato e sapato jogando com as palavras e com a situação.
“Mas eu, vendedor, não sou especialista?”
Já ouviu esta frase na sua empresa?
Pois, provavelmente já.
Uma das formas de lidarmos com o cliente especialista é precisamente saber mais do que ele.
Ou seja, investir tempo para aprender a fundo sobre o que estamos a vender.
Com tudo o que temos para fazer no dia a dia, muitas vezes torna-se difícil, mas o que a experiência como vendedor me diz é que o investimento que fazemos é largamente recompensado.
Senão veja.
Quando um vendedor fala com autoridade e conhecimento sobre o que está a vender, começa a acontecer um fenómeno estranho.
Deixa de ser visto pelo cliente como um vendedor e começa a aparecer aos seus olhos como um especialista.
E como devem imaginar, o especialista convence e como consequência disso vende!
Agora se virmos esta questão noutro nível, a informação que as empresas muitas vezes disponibilizam aos seus clientes é demasiada.
Pense comigo, se tudo o que o Vosso cliente necessita está disponível na internet, para que é que ele necessita do vendedor?
Pois!
Provavelmente para nada.
Se querem que os Vossos clientes Vos liguem, façam com que eles necessitem da Vossa ajuda.
Em vez de disponibilizar tudo no site, disponibilizem apenas o essencial e coloquem explicitamente por escrito algo do género:
“Para mais informações….”
Esta questão pode parecer básica, mas a experiência de trabalharmos com as empresas no desenho de estratégias comerciais de sucesso mostra-nos que este é um dos erros mais frequentes.
Ou se peca por defeito, ou seja, o site é uma nódoa e não está minimamente organizado ou apresentável, ou então peca-se por excesso.
Aqui impera o bom senso.
Disponibilizem informação, mas com conta, peso e medida, guardem sempre alguma parte da informação para darem pessoalmente.
O que nos leva a outro nível de análise para terminar.
E que fazer quando Vos pedem uma proposta, parecendo já conhecer tudo o que Vocês têm a oferecer?
Muito simplesmente, utilizar uma estratégia de não enviar propostas ou preços sem uma reunião presencial com o cliente.
Pode parecer um pouco extremo, mas em projetos grandes ou em soluções mais complexas faz todo o sentido.
Enviar orçamentos ou propostas, só por enviar, normalmente não leva a lado nenhum.
Somos apenas carne de canhão para o nosso cliente mastigar preços num processo de consulta simultânea a várias empresas nossas concorrentes.
Se vamos investir tempo a responder a uma proposta, o que, como deve imaginar, tem custos que em alguns casos até são elevados, o mínimo que o nosso cliente pode fazer é dispensar-nos 30 a 60 minutos para uma reunião de análise das suas necessidades.
Temos tido casos de empresas com quem temos trabalhado em que até se chegou a implementar uma política de não envio de proposta sem pelo menos uma reunião com o cliente.
O que detetámos foi que a partir do momento em que essa política foi estabelecida, o processo comercial tornou-se mais assertivo e muitas vezes mais eficaz.
Muito do lixo, em termos de propostas, que normalmente se acumula nos pipelines de venda acaba por ser naturalmente eliminado.
Esta semana pare um pouco para pensar na sua estratégia comercial em termos da informação que disponibiliza aos seus clientes.
Vai ver que, numa primeira abordagem, muitas vezes a informação é demasiada.
Also published on Medium.
joao diz
Muito bom, como sempre.