No mês passado, enquanto fazia um levantamento de necessidades para uma empresa que pretendia fazer um projecto de investimento para se candidatar a fundos comunitários, deparei-me como um Engenheiro de Produção, recém-licenciado, que trabalhava na empresa há cerca de 9 meses.
Depois de falarmos um pouco sobre o processo produtivo da empresa, esse Engenheiro disse que não percebia muito bem por que razão se tinha contratado um consultor externo para fazer um trabalho que se podia fazer internamente.
Nesse momento perguntei-lhe se tinha alguns conhecimentos de projecto de investimento e se já tinha feito alguma candidatura a fundos comunitários, ao que ele respondeu que não. Apenas achava que se podia resolver o problema que se tinha identificado e que levava à candidatura para a aquisição de novos equipamentos, reestruturando a linha de produção.
Enquanto explicava resumidamente a sua ideia, vi a expressão de admiração na cara do Administrador. Claramente era uma boa ideia.
Quando se questionou o Engenheiro sobre por que razão ainda não tinha sugerido essa solução, a resposta foi imediata: porque não tinham perguntado.
Ele tinha identificado o problema no segundo mês de trabalho, falou com algumas pessoas que lhe disseram que sempre se fez assim porque é a melhor forma de o fazer, e achou que se existisse melhor forma já alguém teria alterado o processo, portanto decidiu calar-se porque santos de casa não fazem milagres.
Esta é uma situação frequente em muitas empresas. Em Portugal ainda não temos o hábito de partilhar os desafios com a equipa e procurar formas colaborativas de os solucionar. Tentamos resolver sempre da mesma maneira, entrando num círculo vicioso em que as soluções parecem todas esgotadas.
Por vezes temos de quebrar as regras para poder chegar um pouco mais longe e construir novas regras para além das fronteiras anteriormente estabelecidas.
Há centenas de anos Newton decidiu que o tempo era absoluto e todos os cientistas da época concordaram. Anos mais tarde, Einstein teve de quebrar essa regra e imaginar que o tempo podia passar mais depressa para um objecto do que para outro e só assim conseguiu chegar à célebre teoria da relatividade.
O maior desafio é procurar regularmente esse momento de reflexão de forma a antecipar as necessidades e não resolver os problemas. Reuniões regulares dentro das equipas e entre os departamentos podem resultar em soluções criativas para redução de custos ou aumento de proveitos.
Thinking outside the box é mais fácil para quem está de fora e não se encontra limitado por todas as condicionantes do desafio. Por vezes, de uma ideia que parece parva sai uma solução original.
Depois de fazermos algumas contas, no final da reunião concluímos que seria mais rentável investir algum dinheiro na reestruturação da linha de produção existente do que adquirir uma nova linha de produção, não se justificando o projecto de investimento nem a candidatura a fundos comunitários devido ao reduzido valor do investimento.
Apesar de não se ter fechado o negócio para a realização do projecto de investimento e respectiva candidatura, deu-me bastante prazer aquele momento de discussão de ideias com a Administração e o Engenheiro de Produção. Antes de terminar a reunião, tive de lembrar o jovem Engenheiro de que os santos de casa às vezes fazem milagres, mas que muitas vezes tem de vir o consultor externo para que eles aconteçam.
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