Todos nos lembramos seguramente de um episódio de quando éramos crianças em que literalmente uma onda nos embrulhou e parece que fomos à máquina de lavar… E se não foi connosco, talvez até se tenha passado mais recentemente com os nossos filhos!
Lembra-se da sensação? Perdemos o norte, muita areia ao barulho e até engolimos uns valentes “pirolitos”… provavelmente um verdadeiro susto!
É verdade, as ondas pregam-nos umas belas partidas! Se não arriscamos, não desfrutamos, seja no surf, no bodyboard ou afins. Se estamos mal posicionados (como na zona da rebentação) ou mal preparados, em vez de darmos a volta à onda, é ela que nos dá a volta a nós.
Às vezes o mar está demasiado calmo, não dá para esperar, senão esperaríamos o tempo todo, e temos que tirar partido da ondulação que temos; outras vezes está agitado de mais e há que reconhecer que uma bandeira vermelha é para respeitar e não entrar.
E nos negócios, será diferente?
Sobre os ventos e as marés…
Estes desportos de mar mais radicais exigem disciplina, tempo e paciência. Exigem respeito pelas condições externas e perseverança na preparação da jornada. É que até entrar na água e depois da prática desportiva, primeiro que esteja de novo tudo arrumado, dá muito trabalho.
Para além disso, não dependem só da vontade de serem praticados, mas de haver condições para os praticar.
Nas empresas nem sempre os ventos estão a favor e nem sempre temos a melhor maré, mas sabemos que as condições perfeitas não existem nem devem voltar tão cedo… E se estivermos sempre à espera da melhor onda, provavelmente ela vai passar por nós e nós nem nos apercebemos.
Às vezes procuramos tanto a melhor oportunidade que quando ela nos surge não nos damos conta… E às vezes essa oportunidade está na ideia de um colega que nos pareceu absurda, em algo que lemos num livro ou vimos numa revista, ou até num projecto que possa estar em banho-maria nalguma gaveta da nossa secretária. Estaremos muito condicionados pelo presente, pelas notícias, e até pelos próprios resultados actuais que não descolam?
Outras vezes só não pegamos numa ideia porque não sabemos se temos mais receio de que não resulte ou se tememos pelo trabalho que ela nos vai dar para implementar e acabamos a pensar que já temos lenha suficiente com que nos queimar…
Já pensou nos resultados de que está a prescindir se alguma dessas ideias tivesse sucesso? Quando vê os seus concorrentes a terem resultados extraordinários, será à toa? Ou será um misto de criatividade, acção e resiliência?
Não tem mal não dar certo, só será seguramente mau se nunca tentar nada de novo…
E se a bandeira estiver vermelha?
A intuição deve, pelo menos de vez em quando, conseguir dar a mão à razão… senão dá asneira da grossa. É que no mundo empresarial não existem nadadores-salvadores milagrosos, e a época balnear vai muito para além dos quatro meses por ano!
Arriscar sim, mas dentro dos limites da razão…
Às vezes fazem-se investimentos avultados ou dão-se passos de gigante sem a racionalidade que o negócio exige. Vemos isso sobretudo na comunidade empreendedora, em que quem está à frente do projecto tem um apego emocional tão grande porque o acha fantástico (afinal de contas é o seu!), que se esquece que os números têm que aparecer, e acaba por se sobre endividar em demasia.
E também não dá para delegar se o liderado não estiver preparado para assumir determinado projecto ou responsabilidade, por mais que queiramos que a equipa amadureça. Delegar não é abdicar ou transferir funções…
Se achar que o passo é maior que a perna, não decida sozinho. Rodeie-se das pessoas certas, das positivas, das que o conhecem bem e à realidade da empresa, de ex-colegas, de contactos que preze no seu grupo de networking. Escute outras opiniões… não mergulhe na onda, só porque ela lhe parece genial! Valide o seu feeling com o feeling de outros decisores.
E quanto à energia?
A energia da onda é fruto do seu tamanho e do seu período e indica o poder da onda. Atrevo-me a dizer que é como a paixão na nossa profissão, dá-nos a adrenalina para viver para além do presente e influenciar positivamente o médio prazo.
E isso permite-nos encontrar o norte no turbilhão diário da vida das empresas, ter vontade de encetar caminhos diferentes, de ser disruptivo e chegar ao mercado com outras propostas de valor.
É sempre boa altura para lançar outras iniciativas e revisitar o modelo de negócio, mas no regresso de férias parece que voltamos repletos de energia para o fazer. Talvez como quando compramos uma prancha e um fato novo… já que acreditamos que, mais preparados, vamos apanhar melhores ondas.
É também por isso que lanço o desafio de nesta rentrée ousarmos reflectir com George Bernard Shaw – “Há pessoas que vêem as coisas como elas são e que perguntam a si mesmas: ‘Porquê?’ e há pessoas que sonham as coisas como elas jamais foram e que perguntam a si mesmas: ‘Por que não?’”
Ajude-nos a melhorar! Deixe-nos por favor o seu contributo para o tema.