Uma das questões que existem quando alguém assume uma função de chefia, ou, se quiserem, de liderança, é a síndroma do “bonzinho”.
O “bonzinho” normalmente já foi colega das pessoas que agora lidera. Já privou com eles, já se riu com eles, já sofreu com eles.
Enfim…
Agora numa posição de chefia, o “bonzinho” tem por vezes um papel muito difícil numa primeira abordagem.
Como ganhar o respeito e a simpatia da sua nova equipa?
Posso dizer-vos que mesmo as abordagens mais duras por vezes falham neste campo.
É difícil prever qual vai ser o resultado ao promover uma pessoa.
Por vezes olhamos para uma pessoa numa empresa e dizemos: “Bem, este indivíduo é tão bom colega e tanta gente gosta dele, que vai com certeza dar um bom chefe.”
Por vezes olhamos para outra pessoa e dizemos: “Bem, ele é muito duro com os seus colegas, se um dia chegar a chefe quase de certeza que vai ser odiado.”
O que a experiência que temos adquirido como líderes e mais tarde como Formadores e Consultores nesta área nos diz é que nada podia estar mais errado.
Muitas vezes aquilo que limita as pessoas tem mais influência sobre a liderança do que tudo o resto à sua volta.
Quer seja a imagem que tem de si próprio, quer sejam os seus valores, quer seja a sua forma de ver a vida e as relações de trabalho.
Um excelente colega pode ou não dar um bom líder.
Basta, por exemplo, existir outro perfil “alfa” no seu grupo e normalmente está o caldo entornado.
(Por “alfa” entenda-se o líder da matilha…)
Provavelmente esse “alfa” estará a pensar:
“Mas porquê ele? Eu teria muito mais jeito para a função!”
E daqui para a frente ou a pessoa “os tem no sítio”, como se diz na minha terra, e consegue-lhe fazer frente e demonstrar que se foi promovido é porque existirão boas razões para isso, ou então poderemos estar frente a um problema sério de respeito pela hierarquia.
Neste caso, uma pessoa “boazinha” tem de se esforçar por desenhar limites no processo relacional.
Tem de manter a integridade e atuar com base em valores que sejam bem percetíveis. Se, por exemplo, adotar a síndroma da maionese ou da manteiga, dificilmente conseguirá liderar a sua nova equipa.
Provavelmente estará a pensar:
“Mas que raio quer ele dizer com isto da maionese e da manteiga?”
Eu explico!
Pense numa sanduíche.
A fatia de cima representa o topo da empresa, ou seja, a nossa chefia.
A fatia de baixo representa as pessoas que lideramos.
Como deve imaginar, a maionese ou a manteiga, conforme o gosto, somos nós.
O problema é que por vezes não somos nem carne, nem peixe num processo destes.
Para cima queixamo-nos que as pessoas que lideramos não nos respeitam, que são uns incompetentes, que dificilmente vamos conseguir levar isto a bom porto com esta equipa, etc.
Para baixo muitas vezes desculpamo-nos com:
“Foram eles lá em cima que decidiram isto… eu é que tentei defender-nos.”
Ao termos esta atitude vamos começar rapidamente a caminhar para um abismo do qual dificilmente sairemos.
Ou, se sairmos, provavelmente será por sermos despedidos por termos feito um trabalho de tão excecional qualidade como líderes…
Só um pequeno aparte…
Pensa que a sua chefia quer saber das suas queixas?
Querem é ver resultados!
Se fosse fácil gerir uma equipa, não lhe tinham pedido a si para o fazer.
Acha que a sua equipa quer saber se foi a direção da empresa que decidiu?
Aos seus olhos ficará sempre como uma pessoa que não teve força suficiente para os defender.
Nestas situações é preciso olhar para dentro de nós e viver os nossos valores como pessoa e como líder.
Se não tivermos esta área da nossa vida bem definida, andaremos sempre a ser “chutados” para todo o lado face às situações que se nos colocam.
De preferência, os nossos valores devem estar em consonância com os da empresa onde trabalhamos. Em situações em que isso não acontece, e posso dizer-lhe que hoje em dia isso é muito comum, a liderança é um fardo em vez de ser algo que nos permita o nosso crescimento através dos desafios que nos coloca.
Quer um exercício simples para determinar os seus valores?
É um pouco mórbido, mas não deixa de ser divertido depois de o fazer.
Feche os olhos, respire fundo e imagine que já morreu.
Agora visualize o seu corpo no caixão, com as pessoas à volta que o conhecem e foram ao velório.
O que é que elas estão a dizer de si umas para as outras?
(Eu disse que era mórbido!)
Tenho um amigo meu que cada vez que falo nesta técnica diz sempre:
“Só espero que não se levante…”
Agora faça o mesmo com uma pessoa que o conheça bem.
Pergunte-lhe exatamente a mesma questão:
“Olha, se eu já tivesse morrido e estivesse no caixão no meu velório, o que é que achas que diriam de mim?”
Vai ver que as versões raramente são coincidentes, no bom e no mau sentido.
Na liderança, se não temos uma perspetiva externa da forma como estamos a liderar, muitas vezes temos surpresas bastante desagradáveis, passado algum tempo.
Agora munido desta informação, pegue numa folha de papel e escreva no topo:
“Quem eu escolho ser”
Dê asas à sua veia de escritor e descreva todas as características e, se quiser, valores que queira ver em si próprio.
O que é que lhe custa?
É apenas uma folha de papel…
Esta semana pare um pouco para pensar.
“Onde é que estão os meus limites como líder?”
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