Numa conversa com um amigo que é agente imobiliário, ele dizia que os dois piores tipos de clientes que podia ter (vendedores ou compradores) eram professores ou polícias.
No início fiquei admirado com a afirmação, mas quando ele me explicou que eram os mais difíceis de trabalhar porque achavam que sabiam tudo sobre qualquer assunto, identifiquei o efeito Dunning-Kruger.
O efeito Dunning-Kruger é um viés cognitivo estudado pela psicologia que nos diz que as pessoas com menos conhecimentos sobre um assunto sobrestimam as suas capacidades nesse assunto e os especialistas muitas vezes duvidam dos seus conhecimentos.
Este efeito, também conhecido como ilusão de superioridade, foi demonstrado numa série de experiências realizadas por Justin Kruger e David Dunning, à época investigadores da Universidade de Cornell. Os resultados foram publicados no Journal of Personality and Social Psychology em dezembro de 1999. Kruger e Dunning constataram que vários estudos anteriores sugeriam que em competências tão distintas como compreensão de leitura, operação de veículos motorizados, ou jogar xadrez, “a ignorância gera confiança com mais frequência do que o conhecimento”.
Dunning e Kruger propuseram que, em relação a uma determinada competência, as pessoas incompetentes:
- São incapazes de reconhecer a sua própria incompetência;
- Tendem a não reconhecer a competência de outras pessoas;
- Não são capazes de tomar consciência do quão incompetentes são em determinada área; e
- Se forem treinados para aumentar a sua competência, serão capazes de reconhecer e aceitar a sua incompetência anterior.
É devido ao efeito Dunning-Kruger que uma pessoa que canta mal, mas acha que canta bem, fica extremamente desapontada quando não é aceite num concurso de talentos e chega a ofender o júri. Para essa pessoa a exibição foi perfeita, não reconhece competência ao júri para a avaliar e não reconhece os erros que lhe são apontados. Mas se começar a ter alguma formação musical, ao fim de algum tempo, reconhece que cantava mal, quais os seus erros e onde pode melhorar.
O mesmo acontece com os gestores da maior parte das empresas. Se os questionarmos como se classificam em relação aos restantes gestores de empresas, a grande maioria classifica-se acima da média, o que é matematicamente impossível. Na verdade, a maior parte deles não têm conhecimentos suficientes de gestão para reconhecerem a sua própria incompetência e não vão aceitar que qualquer consultor lhes venha dizer que são incompetentes em matérias de gestão financeira da empresa.
Por outro lado, gestores mais qualificados duvidam muitas vezes dos seus conhecimentos de gestão, pedindo várias vezes ajuda em áreas que não dominam ou que acham que podem melhorar.Quer queiramos ou não, todos sofremos um pouco deste efeito. Todos achamos que conduzimos melhor que a média dos condutores, todos temos um pouco de treinadores de bancada e todos conhecemos bem o valor da nossa casa no mercado.
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