O que é que nos motiva para trabalhar? Quem responde qualquer outra coisa que não seja dinheiro é porque está na parte superior da pirâmide de Maslow, tendo as suas necessidades básicas satisfeitas.
Na verdade, apenas podemos começar a pensar em qualquer coisa diferente de dinheiro quando recebemos o suficiente para satisfazer os dois níveis mais baixos da pirâmide: fisiologia e segurança.
Mas quando o dinheiro deixa de ser uma necessidade básica, o que é que nos motiva para trabalhar?
Muitos dizem que é fazer o que se gosta, outros referem a alegria com que se faz o trabalho, mas num artigo que li recentemente do economista comportamental Dan Ariely, este considera que a maioria de nós prospera e cresce do ponto de vista profissional fazendo progressos constantes e tendo um propósito, um desígnio, uma finalidade.
Para testar a sua teoria, Dan Ariely fez algumas experiências. A primeira passava por pedir a dois grupos de pessoas que construíssem bonecos de lego, mediante o pagamento de 3$, reduzindo 10 cêntimos na construção do seguinte.
No primeiro grupo, depois de construírem o boneco, este era retirado, colocado debaixo da mesa, e um novo boneco era entregue para construção.
No segundo grupo, depois de construído o boneco, este era desmanchado à frente da pessoa e entregavam-no de novo para que voltasse a construir.
O resultado foi que, em média, os do primeiro grupo construíram 11 bonecos e os do segundo grupo apenas 7.
Apesar de os 2 grupos serem remunerados da mesma maneira, o segundo grupo, que não via qualquer propósito na tarefa de construir bonecos de lego, uma vez que eram destruídos à sua frente, empenhava-se menos na construção e não construía tantos quanto o primeiro grupo.
O mesmo acontece numa empresa, em que o colaborador é instruído para desempenhar a sua tarefa sem compreender qual o impacto que vai ter no resultado final da empresa, tendo muitas vezes de refazer o trabalho devido a instruções pouco claras.
Um caso estudado nesta área é o exemplo da mistura instantânea para bolos, que podia ser adquirida no supermercado. Bastava adicionar água e colocar no forno, conseguindo-se assim um bolo em escassos minutos.
No entanto, apesar de ser um produto interessante, com um preço acessível, fácil de usar e com um sabor considerado superior à média, este produto não conseguiu prosperar no mercado.
Após várias entrevistas a consumidores, concluíram que a principal razão por que não era adquirido não estava relacionada com a qualidade, preço ou problemas de utilização, mas sim com o facto de os consumidores não sentirem qualquer sentimento de realização face ao bolo. Não sentiam que fosse o seu bolo e não se sentiam confortáveis em apresentar o bolo a terceiros como tendo sido feito por eles.
Face a estes resultados, a empresa decidiu retirar o leite e os ovos da mistura instantânea, obrigando a que fossem acrescentados pelo utilizador. Essa pequena alteração provocou um aumento exponencial das vendas, uma vez que as pessoas já sentiam que aquele era o SEU bolo.
Quanto maior o esforço e o empenho que colocamos numa tarefa, maior o sentimento de que atingimos algo importante, com significado, mesmo que os outros não o vejam da mesma maneira.
Dan Ariely fez outra experiência com dois grupos. Foi-lhes pedido que fizessem um sapo em papel, utilizando técnicas de origami. Ao primeiro grupo foi-lhe entregue uma folha com instruções sobre como dobrar o papel, ao segundo grupo apenas lhe foi mostrada uma fotografia do que se pretendia.
Depois de terem o seu sapo construído, foi perguntado a cada participante quanto achava que podia valer aquela obra de arte. O mesmo foi perguntado a uma pessoa convidada, que nada tinha a ver com a experiência.
O primeiro grupo que teve acesso às instruções conseguiu coisas semelhantes a sapos e disse que a sua obra-prima valia cerca de 5 vezes mais do que o avaliador externo tinha considerado.
O segundo grupo, que conseguiu sapos completamente disformes, considerou que a sua obra-prima valia cerca de 8 vezes mais do que o avaliador externo.
Por se ter esforçado mais e empenhado mais no processo de construção do sapo, o segundo grupo valoriza mais o trabalho final do que o primeiro grupo, apesar de os sapos serem mais feios.
Sejam os sapos, bolos ou legos, o que nos motiva para trabalhar é a sensação de que contribuímos para um bem comum, para algo maior que nós, mas que não poderia ser atingido sem o nosso esforço e dedicação. Cabe a quem lidera conseguir olhar para os sapos e perceber o que significam para cada um, incluindo da próxima vez instruções que possam ajudar a melhorar o origami e beneficiar o resultado final.
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