Nas últimas semanas acompanhei um processo de recrutamento duma empresa.Pretendiam um(a) jovem dinâmico com experiência internacional. Foram recebidas mais de 100 candidaturas para essa posição e, após análise curricular, foram escolhidos 12 para se realizar uma primeira entrevista.
Acompanhei a primeira ronda de entrevistas com grande expectativa. Os curricula eram muito interessantes e pareciam promissores.
Alguns mais dinâmicos que outros, uns mais cativantes, outros mais atrapalhados, mas duma forma geral corresponderam às expectativas.
Porém, uma última pergunta que gosto sempre de fazer nestas situações revelou algo que me deixa preocupado.
Quando perguntamos a uma pessoa entre os 20 e os 30 anos “Onde te vês daqui a 5 anos?”, o cérebro congela, olham para o infinito, repetem a pergunta em voz alta 3 vezes e a maioria responde que 5 anos é muito tempo, preferem viver um dia de cada vez e não pensar num futuro longínquo.
Na verdade, apenas 3 dos 12 entrevistados conseguiram dar uma resposta à pergunta. Os restantes escusaram-se a responder, mesmo sabendo que essa resposta podia ser decisiva para o seu próprio futuro. Isto significa que 75% dos participantes não tem qualquer objectivo para o longo prazo (ou pelo menos não o quer revelar) e diz que com as constantes alterações que acontecem no mundo, não serve de nada ter objectivos a mais de 1 ano.
Extrapolando para o mercado empresarial, isto é o que acontece com muitas das empresas com que trabalho. Consideram que uma empresa deve ser dinâmica, reagir de forma rápida às constantes alterações do mercado, e que a planificação deve ser anual e muitas vezes apenas trimestral, não existindo planos para mais de 2 anos.
Tudo isto é verdade, e não está em causa o estar certo ou errado. Muito se tem escrito nos últimos anos sobre planeamento, defendendo alguns autores de renome que o longo prazo está morto.
Porém, há coisas que não consigo perceber. Se uma empresa é criada com um determinado propósito (visão), para dar resposta a uma necessidade que existe no mercado, será possível crescer sem ter um objectivo de longo prazo? Define o crescimento ao sabor da maré, arrastada pelos ciclos económicos? Como explica aos seus colaboradores para onde quer ir?
Estamos a falar de ter um objectivo, não de como lá chegar. Uma coisa é saber para onde queremos ir, outra coisa é saber como lá chegar. A primeira será o nosso objectivo a segunda será o nosso plano.
O objectivo deve ser SMART e servir de orientação para o crescimento da empresa. Pode estar sujeito a revisões e mesmo alterações, mas será sempre um ponto de referência para todos os que lá trabalham, e até mesmo para clientes e fornecedores.
O plano deve ser construído para atingir o objectivo, definindo marcos (milestones) que nos permitam saber se vamos no caminho certo e se temos de ajustar ou alterar o caminho para chegar ao nosso objectivo.
Quando entramos numa empresa que tem um objectivo, mas precisa de ajuda no plano, podemos ajudar a delinear metas mensais, trimestrais e anuais que nos possam levar até ao objectivo. No entanto, é mais frequente encontrarmos empresas cujo objectivo não está claro e que apenas querem crescer… Quando perguntamos aos CEOs “Mas o que é para si crescer?”, o cérebro congela, olham para o infinito, repetem a pergunta em voz alta 3 vezes, e a maioria responde que gostava de aumentar as vendas no próximo ano.
Como dizia Séneca, para um barco sem rumo não há vento favorável.
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