No outro dia de manhã, enquanto estava à espera para ser entrevistado no jornal das 8:00 da SIC sobre motivação e desempenho, caíram-me os olhos (salvo seja) em cima de uma planta que estava à minha frente.
A planta em si não tinha nada de especial. Estava um pouco mal tratada e com pó, mas o que me chamou a atenção foi o facto de o vaso ter um código de barras.
Dei por mim a comentar em voz baixa: “Bolas, até as plantas obedecem à norma e estão catalogadas!”
Tudo isto fez-me pensar nas empresas com quem temos trabalhado e nas empresas que diariamente recorrem a nós para motivarmos as suas equipas, que ajudemos os seus líderes a liderar melhor, a aumentar as suas vendas, ou diminuamos os seus custos, ou…
Mas o que raramente nos dizem é que querem que ajudemos as suas pessoas a serem pessoas fora da norma.
Ainda existe um estigma na nossa sociedade empresarial um pouco conservadora acerca dos perfis que não encaixam num “código de barras”.
Se pensarmos nas empresas portuguesas que têm sucesso, notamos muitas vezes que tiveram um especial cuidado para que os talentos “fora da norma” não se perdessem no meio de tanta normalidade.
Hoje em dia, com as condicionantes que a sociedade e o mercado apresentam-nos, a liderança das empresas tem de ter um especial cuidado com a questão da integração e do enquadramento face ao sucesso destes perfis.
Internamente, desafiamos muitas vezes a nossa equipa a fazer coisas fora da norma, para poder transpor depois para os nossos clientes ideias, técnicas e ferramentas que até ao momento nunca tinham sido pensadas.
Quem me conhece a um nível mais pessoal, e quem acompanha o meu percurso, nota que frequentemente me exponho a coisas novas, muitas delas que nem têm a ver com os mercados ou áreas em que trabalho.
Poderá pensar-se, mas, porque é que faço isto?
Porque na vida e na liderança ganha quem tiver maior flexibilidade mental e de comportamentos e atitudes.
Se só me cingisse aos programas tradicionais de vendas, liderança, etc., em termos de formação provavelmente os cursos que desenhamos não teriam o sucesso que têm nem os fatores diferenciadores de que as pessoas que participam tanto gostam.
Uma das coisas de que falo frequentemente com as equipas de liderança prende-se com o fator “zona de conforto”.
Quando as pessoas estão dentro da sua zona de conforto estão dificilmente preparadas para desafios “fora da caixa”.
Aí, normalmente, são os perfis que não têm “código de barras” que melhor reagem a esses desafios.
As zonas de conforto existem em todas as áreas da nossa vida: pessoal, profissional, espiritual, etc…
Muito do que fazemos com as empresas é precisamente isto, puxar as pessoas para fora das suas zonas de conforto e apoiá-las para que esse processo seja produtivo e dê frutos no futuro.
Um líder que não apresente a capacidade de sair da sua zona de conforto e enfrentar os desafios que se lhe apresentem diariamente, dificilmente evolui.
Quer um exemplo?
A maioria dos líderes não tem por hábito pedir feedback em relação à forma como lidera as suas pessoas.
Mas se não pede, como é que sabe se lidera bem?
Ok, pode ter o resultado que pediu à sua equipa atingido, mas liderança tem diversas dimensões e muitas das vezes a dimensão do fazer é a mais fácil de atingir.
A dimensão do manter, da coesão, do espírito de equipa, do sacrifício que muitas vezes é preciso fazer, é que já não é tão simples.
Nestas situações os melhores líderes são os que mostram às suas equipas que estão dispostos a ouvir e a trabalhar o feedback que lhes é dado pela sua equipa e pelos seus pares.
Uma das coisas que fazemos frequentemente nas empresas é aquilo que é habitualmente designado por análise 360 graus.
São processos de avaliação em que todos se avaliam entre si — liderança à equipa e equipa à liderança, por exemplo.
Muitos destes processos obrigam a uma conversa de enquadramento com as pessoas, sabem porquê?
Porque normalmente ninguém gosta de dizer “mal” dos outros.
É mais simples ser politicamente correto do que enfrentar as consequências da verdade.
Mas se não somos verdadeiros, como havemos de corrigir estas questões?
Se ninguém fala, se ninguém questiona, se ninguém quer sequer discutir os assuntos em cima da mesa devido ao “conflito” que pode ser gerado?
Sem discussão aberta e apaixonada acerca das diferentes situações que a equipa enfrenta, não se vai a lado nenhum.
É claro que esta discussão deve acontecer nos locais próprios.
Após a discussão, e após se alinhar uma estratégia, é necessário que, ao sair da porta da reunião, estejam todos alinhados e não existam mais conversas de corredor sobre o assunto.
É preciso que as pessoas entendam que sair fora da sua zona de conforto é fundamental para que a sua equipa e a sua empresa possam enfrentar o futuro e o mercado com um sorriso nos lábios.
É fácil de fazer isto?
Claro que não. Se o fosse, as empresas não nos contratavam tantas vezes para o fazer.
E na sua empresa?
Ainda vive fechada na sua zona de conforto?
Gostaria de tornar 2022 num ano de sucesso para a sua empresa?
Invista hoje na formação das suas equipas e respetiva liderança!
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