Se perguntarmos aos mais jovens, poucos saberão… Alguém que usava mangas-de-alpaca seria um funcionário tipicamente dos serviços administrativos e que desempenhava a sua função ou funções repetidamente com muito zelo.
É impossível falarmos em mangas-de-alpaca sem pensarmos de imediato em tarefas burocráticas, rotineiras, muitas vezes asseguradas por recursos a quem nos referíamos depreciativamente, visto associarmos a alguém de comportamento fechado, picuinhas e perfecionista.
E hoje, nas nossas empresas, será que vamos tendo ainda alguns “mangas-de-alpaca” à escala atual? Pois…
É que na hora de fazer acontecer, será que não dava jeito?
Todos diferentes é bom?
Quando por mais que se oriente, se motive, se dê o exemplo, nos cansamos de pedir “arregaça as mangas e faz”, porque é que será que há sempre quem não se mexa…?
Onde falham a nossa abordagem e a comunicação?
É nestas alturas que pensamos na tal Dream Team… E se pudesse recrutar uma equipa do zero, como é que eles seriam? Só que, voltando à realidade, todos sabemos que as coisas não são assim tão simples.
Se pensarmos bem, não há grandes segredos! Tudo o que precisamos é de chegar melhor a cada um, da forma que eles valorizam…
Na sua equipa são todos iguais? E são todos iguais a si? Já pensou nisto? Muitos líderes recrutam à sua imagem e semelhança, muitas vezes até sem grande consciência disso, porque a empatia é imediata, a comunicação flui e o processo de atuação e decisão não difere muito…
É, de facto, verdade que, no dia a dia, quando há perfis comportamentais muito semelhantes a liderança é mais fácil, os interesses são os mesmos e a forma de chegar a cada um também.
Mas, nos pratos da balança, o que perdemos com isso? Não nos fará a diversidade chegar mais longe? Não acabaremos a fazer o que sempre fizemos, como fizemos, ou a sonhar fazer, sem nunca nada acontecer?
Tempos diferentes exigem necessariamente outras respostas e nem sempre o que é mais fácil nos consegue dotar do sucesso que precisamos. Por outro lado, se passamos a vida a tratar das urgências e do hoje, sem capacidade de pensar o médio prazo (e agora o médio prazo é tão curtinho), que oportunidades de futuro e de crescimento estaremos a desperdiçar?
A diversidade de perfis e competências funcionais é hoje determinante. Lacunas de competências técnicas são relativamente fáceis de preencher com formação, mas a atitude, a postura, a garra, a mente aberta, a comunicação, a influência e a liderança são indispensáveis e devem constituir uma aposta constante. Estas, sim, não podem estar em crise…
Não há avanços sem dar passos em frente, sem que surjam ideias e se ponham em prática. Há que pensar fora do quadrado também, para conseguirmos abordagens distintas, que não fiquem sistematicamente por operacionalizar.
E é aqui que não podemos prescindir dos mangas-de-alpaca dos tempos modernos… Precisamos tanto de perfis relacionais, capazes de gerar ideias e identificar oportunidades distintas, como de gente organizada, metódica, que faça acontecer com consistência, com qualidade e rigor. E temos que gerir as nossas expetativas muito bem, porque são estes nossos últimos executantes que, lá por não serem iguais a nós, são justamente os que vão fazer acontecer…
Se nos perguntam se liderar a diversidade exige maior flexibilidade e pragmatismo do líder, se exige preparar-se melhor, abandonar algumas zonas de conforto e até superar-se, se exige calçar os sapatos de cada par ou subordinado constantemente, claro que sim!
Toupeira ou Visionário?
E que tipo de líder estou a ser nesta fase? Arregaço as mangas, arregaço demais as mangas, voltei às mangas-de-alpaca, virei toupeira submersa em papéis, urgências e problemas?! Deixei de comunicar com a equipa porque também não tenho nada de bom para lhes dizer?
Mais ou menos relacionais, mais ou menos orientados à tarefa, importa não deixarmos de pôr na agenda temas que só nós podemos assegurar. Ou não temos o futuro nas nossas mãos?
Podemos não saber exatamente o que fazer do futuro neste momento, mas não podemos deixar de o pensar.
E, mesmo que nos falte a visão, o que nos impede de nos rodear das pessoas certas, internas ou externas, que nos ajudem a construí-la?
Quando nos detemos demasiado tempo em modo toupeira, ficamos cegos perante a escolha de podermos ser visionários…
É que se vivermos submersos como as toupeiras, ficaremos sempre a esperar melhores dias!
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