Um dos principais problemas que as empresas enfrentam em Portugal e no mundo, mas penso que existe um excesso disto em Portugal, prende-se com o medo de falhar.
Muitas vezes a maior parte das pessoas não faz porque tem medo de errar.
Se formos ver as origens deste problema, podemos dispersar-nos em várias direções, como sendo o antigo sistema educativo, o sistema de recompensa das empresas, enfim… dificilmente chegaríamos a uma conclusão séria e que granjeasse o consenso da maioria das pessoas.
Mas ao fim e ao cabo porque é que é tão importante não ter medo de falhar?
Se pensar bem, na maioria dos casos o risco não é recompensado nas nossas empresas. As pessoas são penalizadas quando falham e muitas vezes não são recompensadas com igual energia quando fazem as coisas bem.
Lembra-me sempre aquilo que o meu Pai me dizia quando eu era pequeno e trazia uma boa nota num teste.
Normalmente perguntava-lhe:
“Ó Pai, quando os meus colegas trazem um Muito Bom os pais deles dão-lhes uma prenda. Porque é que tu não me dás?”
Sei hoje que era mais porque o dinheiro não abundava na nossa casa e não dava para “esticar” para tudo, mas o meu Pai normalmente respondia:
“Porquê? Estudar não é o teu trabalho?”
E com esta me calava.
Parece que nas empresas existe uma problemática bastante complexa, pois podemos passar uma vida a fazer bem, mas quando fazemos mal pela primeira vez, “cai o Carmo e a Trindade” e nunca mais, ou dificilmente, levantamos a cabeça.
Talvez esteja aqui o problema da falta de empreendedores em Portugal.
As pessoas são tão avessas ao risco que dificilmente enveredam por uma carreira ou criação de emprego em que ponham em causa a sua própria segurança.
O pior é que as empresas são feitas por pessoas, as pessoas são moldadas pelas suas experiências e pela sociedade à sua volta e tudo isto gera empresas “cinzentas” que não inovam nem se arriscam em voos que tenham maior rentabilidade comercial ou estratégica.
Uma das coisas que mais me impressionou nos últimos tempos foi uma história que li na “Times” há já alguns meses.
Basicamente, a história relatava a experiência de um executivo norte-americano, que devido a um erro de gestão provocou um prejuízo à empresa de cerca de 1 milhão de dólares.
Ciente do problema que tinha causado à empresa, decidiu redigir a sua carta de demissão e no dia seguinte apresentou-a ao seu chefe.
A surpresa está na reação do chefe.
Em vez de se virar para ele e aceitar a carta de demissão, basicamente respondeu-lhe o seguinte.
“Caro Sr. Smith, tenho muita pena, mas não posso aceitar a sua demissão!”
Como é óbvio, o Sr. Smith ficou de boca aberta a olhar para ele com um ar de espanto.
“O senhor acha que depois de ter investido 1 milhão de dólares na sua educação e treino eu o vou deixar ir embora?”
É com certeza uma perspetiva um pouco diferente daquela a que estamos habituados nas nossas empresas.
Não digo que se cultive o risco pelo risco, mas se analisarmos as empresas que estão na crista da onda a nível internacional como a Google, a Microsoft e outras, muitas delas têm planos de incentivo ao risco e à inovação.
Porque não criarmos algo semelhante, mas à nossa escala, nas nossas empresas?
Em primeiro lugar, há que dar espaço a que as pessoas falem!
Criar fóruns e sistemas que permitam aproveitar todo o conhecimento que se desperdiça habitualmente.
Seja em que equipa for, existe sempre junto das pessoas que a compõem um capital intelectual que deve ser aproveitado e analisado.
Com certeza que conhece a história dos “post-it” da 3M.
Se não conhece, procure na internet, que vale a pena. Mas e se esta ideia de um dos empregados tivesse sido desperdiçada?
Muitas vezes, como líderes, andamos tão “afundados” nos nossos problemas e projetos e défices financeiros, que não paramos para sair da fotografia e ver onde é que a organização está a perder um dos maiores capitais que pode ter.
O capital intelectual e a vontade das suas pessoas de arriscar.
Montar um processo destes nas empresas nem sempre é difícil, pode ser tão simples como uma reunião mensal de toda a empresa ou, se a escala for muito grande, do departamento, onde as pessoas são encorajadas a falar abertamente.
A única premissa que existe é que quando apresentarem um problema têm também de apresentar uma solução para o mesmo, ou então para o problema de outra pessoa que já tenha sido colocado.
Pode até pegar num flipchart e criar duas colunas. Na esquerda escreva “Problema”, na direita escreva “Oportunidade”.
Depois vá preenchendo com as soluções que as pessoas vão dando.
Para as que ficarem sem resposta, deixe o flipchart num local de passagem, como seja o refeitório, bar ou outro local, e incentive as pessoas, quando passarem por lá e se se lembrarem de uma solução, a escreverem-na.
Vai ver que rapidamente começam a surgir ideias e propostas inovadoras para a sua empresa ficar ainda mais competitiva no seu mercado.
Esta é apenas uma das ferramentas que utilizamos com as empresas a nível nacional para melhorar a sua competitividade e capacitá-las para darem cartas no seu mercado, imagine todas as outras que temos no nosso arsenal.
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