De que é que você se ia então queixar?
Acredito que neste país temos muito a dinâmica do fado do coitadinho e mesmo quando algumas das notícias são boas, arranjamos sempre maneira de nos queixarmos de alguma coisa. Mas afinal, de que nos queixamos?
É uma lista infindável! As que mais estão na ordem do dia, como a crise, a falta de liquidez, os cortes salariais, retracção nos investimentos, cortes ao crédito, aumento do desemprego, e poderíamos continuar por aqui.
E quando trabalhamos com as empresas? Curiosamente, à lista acima descrita ainda podemos acrescentar outras tantas coisas. A falta de clientes, de prémios, de mais encomendas, de mais negócio, de melhores colaboradores, de um telemóvel melhor, de um novo carro ou computador e provavelmente paro por aqui.
É nesta fase que gostamos de questionar a equipa e abordar com uns “novos óculos” esta questão do não ter e do queixar.
Eu não tenho clientes
E o que está a fazer para ter clientes diferentes? Que mercados poderia explorar que lhe pudessem trazer mais retorno? Que produtos ou serviços existem na sua empresa que podem ter outras aplicações com ligeiras alterações? E explorar outros mercados e modos de distribuir o seu produto?
Acredito que esta é a altura certa para questionar o modelo de negócio existente em certas empresas. Muitos comerciais esquecem-se de explorar a base de clientes já existente e de procurar mais negócio aí ou em referências que possam dar. Outros descuram o serviço que podem prestar e desse modo só aumentam a distância entre a empresa e os clientes. Poderemos pensar em estabelecer prazos de pagamentos de facturas emitidas a clientes, trabalhando de forma consultiva para que os mesmos sejam cumpridos e ajudando deste modo os clientes. Uma acção destas é uma iniciativa simples de organizar e com um impacto muito grande. Se ajudar os seus clientes está em última instância a ajudar-se a si.
Certos mercados estão, pela sua especialização, com mais dificuldades em obter clientes, mas até que ponto estão a manter a frequência das visitas ou contactos? Vemos que, por uma questão de economia, muitos comerciais estão a ser retirados “da rua”. Em tempos difíceis os clientes precisam mais do que nunca de ser mimados e visitados, pois são estes que, fidelizados, irão trazer a facturação necessária para passar por estes tempos conturbados.
Eu não tenho um iPhone
É do conhecimento de todos que o número de desempregados em Portugal tem aumentando de forma constante e diária. São cada vez mais e muitos com currículos e experiências impressionantes. Não gostando de entrar pelo campo das comparações, quantos de nós e das pessoas das nossas equipas agradecem por ter um emprego?
Neste contexto tenho de admitir que, em alguns dos processos de recrutamento que fazemos, a primeira pergunta que é feita é se vai haver viatura, ou telemóvel e de que marca, só depois questionam sobre o salário ou comissões. Sem esquecer que a viatura é para uso total, claro.
Mas será que o status nos interessa assim tanto, quantos tantos nem sequer emprego têm?
Penso que nunca é demais lembrarmos as nossas equipas de que devem agradecer por quanto têm hoje em dia. Não estou a dizer para comparar com frases típicas de “Lá fora é bem pior” ou “Dêem graças porque vos pago”, ou ainda pior “O mundo lá fora está cheio de descontentes”, mas numa óptica construtiva. O Presidente Kennedy há muitos anos disse que o ideal é as pessoas questionarem sobre o que podem fazer pelo seu país sem esperarem sempre o que o país pode fazer por elas. E nas empresas observamos cada vez mais essa mudança de paradigma. Em vez de ser sempre o que a empresa nos pode dar, porque não questionar sobre o que podemos e devemos dar à empresa?
Estamos a falar de trabalho árduo, empenho, garra e atitude, envolvimento e disponibilidade, força de vontade e espírito de equipa, conhecimentos e partilhas, motivação e espírito de inter-ajuda. Se os colaboradores se entregarem a 100% a empresa vai poder dar o retorno desejado.
Neste momento, mais do que nunca, as pessoas precisam de se agarrar ao que têm, como um emprego, uma casa, amigos, saúde, família, um ordenado, um carro e uma casa, conforto, um país onde há sol e boa comida, boa cerveja e tantas outras pequenas coisas que nos fazem sentir mais motivados e determinados em conseguir atingir outros níveis de sucesso. Pois, provavelmente nem todos temos o iPhone, mas se isso não é fundamental para o nosso trabalho, porque não nos focamos em trabalhar ainda melhor e quem sabe o nosso telefone poderá virar iPhone?
O exemplo é simplista, mas real. E quem fala de um iPhone fala de um carro melhor, de um computador mais potente. Está na altura de parar com este fado do pobre que não tem nada para pensarmos uma nova abordagem ao que de facto temos em mãos.
Por isso fazemos sessões de brainstorming de equipas em processos de dinamização empresarial. O objectivo é conseguir que as equipas entendam a necessidade de ver a vida profissional e pessoal por outro prisma.
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