É frequente pedirmos conselhos a diversas pessoas antes de tomarmos uma decisão importante.
Procuramos reunir uma grande quantidade de informação para poder analisar e tomar a melhor decisão possível, por isso tentamos ouvir a opinião de uma ou mais pessoas.
Normalmente, procuramos pessoas a quem reconhecemos algum mérito, pessoas que consideramos uma referência ou especialistas no tema que pretendemos abordar.
Num artigo publicado recentemente na Harvard Business Review (HBR) denominado “How asking multiple people for advice can backfire” os autores (BLUNDEN et al.) referem uma série de estudos em que as pessoas a quem foi pedido um conselho reagem de forma diferente dependendo do número de pessoas a quem foi pedido o mesmo conselho.
Tendo em conta que é frequente pedir um conselho a várias pessoas antes de tomar uma decisão e que muitas vezes somos incentivados a procurar uma segunda ou terceira opinião, seria de esperar que as pessoas a quem são pedidos os conselhos considerassem as pessoas que pedem conselhos mais competentes por pretenderem obter mais opiniões sobre o assunto. Porém, o que demonstram os estudos é que quando as pessoas a quem são pedidos conselhos sabem que foram apenas uma das pessoas consultadas, classificam a pessoa que lhes pediu conselhos menos competentes, consideram que não estão tão próximos dessa pessoa do ponto de vista social e mostram menos vontade em voltar a dar um conselho a essa pessoa no futuro.
As pessoas que pensam que apenas lhes foi pedido um conselho a elas, sentem o seu ego reforçado e esforçam-se genuinamente por dar o melhor conselho possível. Porém, ficam bastante desiludidas quando a outra pessoa não segue o seu conselho e vão evitar dar conselhos a essa pessoa no futuro.
Do ponto de vista profissional, como business coach habituado a acompanhar várias empresas de diferentes setores de atividade, é frequente ser confrontado com situações em que me é pedido algum conselho. No entanto, como especialista em algumas matérias empresariais, considero que estou a emitir uma opinião profissional sobre determinado tema, tendo por base o conhecimento científico e a informação disponível sobre o assunto.
Acho normal que um Administrador duma empresa pretenda saber várias opiniões sobre um assunto antes de ponderar e tomar uma decisão final, não ficando o meu ego magoado por ele decidir seguir um caminho diferente do que eu lhe tinha proposto.
Mas já do ponto de vista pessoal, quando penso no que sinto quando um amigo me pede um conselho sobre algum assunto, acho que fico efetivamente magoado quando ele decide seguir um caminho diferente do que lhe tinha proposto. Penso que todos sofremos um pouco dum enviesamento egocêntrico em que consideramos a nossa opinião melhor que a dos outros.
Uma das conclusões dos estudos referidos no referido artigo da HBR é que as pessoas que procuram conselhos apenas pretendem receber informação, procuram aumentar o número de opções disponíveis. No entanto, as pessoas que dão conselhos acham que o que lhes está a ser pedido é um caminho, uma direção que permita reduzir o número de opções para facilitar a decisão.
Se marcarmos um caminho específico, vamos ficar à espera que as pessoas o sigam. Se iluminarmos uma variedade de opções, damos às pessoas a possibilidade de escolher a que melhor pode servir os seus objetivos.
Da próxima vez que pedir um conselho, pense no que essa pessoa vai sentir se não seguir o seu caminho. Talvez seja útil explicar os seus objetivos, que está a reunir informação sobre o tema e referir que pretende obter várias perspetivas sobre o assunto antes de tomar uma decisão.
Mesmo que tome uma decisão diferente do que lhe foi aconselhado, pode sempre reforçar o ego das pessoas a quem pediu conselho, referindo que o seu contributo foi muito útil para a tomada de decisão porque permitiu analisar todos os caminhos possíveis.
Corra bem ou corra mal, quando damos um conselho todos gostamos de ouvir algum dia a célebre frase “afinal tinhas razão”.
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