Como líder, um dos aspetos aos quais temos de estar atentos prende-se com a questão da dinâmica pessoa ou personagem? Ou seja, a forma como atuamos no mundo.
Será que somos pessoas? Será que somos personagens?
Uma das coisas que me tem ocupado a mente nos últimos tempos é precisamente esta questão.
“Quais são os papéis que tenho na minha vida?”
Numa sessão de coaching que fiz aqui há algum tempo, lembro que, por portas travessas, chegámos a esta questão.
Lembro-me até que consegui desenhar um conjunto de círculos num papel e que um deles tinha escrito “Formador / Vendedor de Ideias”, outro “Família”, outro “Líder”.
O coaching tem destas coisas, por vezes saltam aquilo a que carinhosamente chamo de “pipocas”.
Por pipocas entendam-se aquelas ideias que nos vêm à cabeça quando o nosso coach nos faz uma pergunta que por vezes até parece despropositada, mas que tem este efeito.
Se quisermos, trata-se de um salto quântico da mente para um sítio que por vezes não tinha nada a ver com o anterior, mas que permite explorações de uma validade inquestionável.
A pergunta que me fez saltar mais, que recordo com carinho e que gostaria de partilhar aqui convosco hoje, foi:
“Em que parte da tua vida e como líder é que todos os papéis estão reunidos?”
A minha reposta, por incrível que pareça, foi imediata.
No projeto de formação comercial e de liderança gratuita para desempregados.
Confesso que estanquei e até eu próprio fiquei surpreendido com o que saiu.
De facto, nunca tinha pensado nisto desta forma, explorando esta situação, e cheguei à conclusão que era o único sítio em que, se quiserem, podia ser eu próprio, na totalidade, com todas as minhas facetas e contra facetas.
Na minha vida a componente da entrega aos outros sem expectativa de retorno é algo que tem vindo a assumir um papel muito forte nos últimos anos.
A razão pela qual trago este tema para cima da mesa prende-se novamente com aquela fase da vida em que muitas coisas já não fazem sentido em termos profissionais.
Seja por desgaste, seja pelas situações à nossa volta, seja muitas vezes por termos de estar a assumir um papel que na prática não queremos para nós, mas que se torna uma necessidade.
Esta necessidade muitas vezes pode ser de sobrevivência, seja ela emocional ou até mesmo de outra vertente mais dura.
O que é certo é que como líder nem sempre o papel que estamos a representar é o nosso.
Por vezes pensamos que sim, mas o “ator” é muitas vezes influenciado pelas condicionantes que tem à volta. Se quiserem, pelo seu ecossistema.
Essas condicionantes podem ser histórias do seu passado, podem ser estratégias que em tempos utilizou, mas podem também ser pessoas que procuraram moldá-lo à sua imagem ou ao que se pretende como imagem da organização.
O que sei é que se queremos ser líderes na verdadeira aceção da palavra, todos os nossos papéis têm de estar integrados. Sob pena de não termos congruência entre o “SER” e o “FAZER”.
Gostava de lhe propor um pequeno desafio.
Pegue numa folha de papel em branco e desenhe o número de círculos respeitantes aos papéis da sua vida.
Não se preocupe agora com o tamanho ou localização, apenas sem pensar, sem raciocinar, sem analisar a fundo tudo isto, feche os olhos, pense num número que represente o número de papéis que tem na vida e quando abrir os olhos desenhe-os no papel.
Deixe o seu “sentir” fluir e agora em cada círculo dê um nome a cada papel.
Pare um pouco para respirar fundo e observe o que desenhou.
Imagine que é um observador externo a si, tal e qual como uma câmara a filmar toda a cena.
Estando nessa posição de observador, qual é a primeira ideia que lhe vem à cabeça?
Agora faça um outro exercício.
Coloque o dedo anelar direito num dos círculos, e sinta…
Coloque a si estas questões:
– Como é que esse papel o faz sentir?
– Será que ainda faz sentido?
– Será que é de facto um papel que traga valor à sua vida e à dos outros?
Feche os olhos, respire fundo e imagine que todos esses círculos, independentemente do tamanho, se uniam e ficavam somente um.
Como é que isso o faz sentir agora?
Esta semana pare um pouco para pensar:
“Quais são os papéis que ainda fazem sentido na minha vida como líder?”
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