Não há equivalente às leis do movimento de Newton nas ciências comportamentais, e infelizmente o trabalho de Newton em matemática e física não fornece muita informação sobre o comportamento humano.
Felizmente, existem algumas tendências gerais subjacentes a grande parte do nosso comportamento.
No espírito das três leis do movimento de Newton, Aline Holzwarth escreveu o artigo “The Three Laws of Human Behavior”. Neste artigo fala das três Leis do Comportamento Humano, fazendo o paralelo com as três Leis de Newton.
Quando Isaac Newton apresentou as três leis do movimento há mais de trezentos anos, ele fez algo radical.
Essas três leis simples não foram apenas a base de inúmeras experiências de laboratório e de campo e precursoras da teoria da relatividade de Einstein, mas também foram usadas para informar as invenções e inovações da revolução industrial e até aos nossos dias.
As 3 leis de movimento do Newton
- Lei 1 – Um corpo que está em repouso ficará em repouso e um corpo em movimento continuará em movimento a não ser que uma força externa aja sobre ele.
- Lei 2 – A força imprimida a um objeto é igual à massa desse objeto vezes a aceleração, F = ma.
- Lei 3 – Para cada ação há sempre uma reação oposta de igual intensidade.
As 3 leis do comportamento humano
- Lei 1 – O comportamento tende a seguir o staus quo, a não ser que exista uma diminuição da fricção ou aumento de combustível.
- Lei 2 – O comportamento é função da pessoa e do seu ambiente, C = ƒ (P,A)
- Lei 3 – Para cada decisão tomada, existem compromissos (tradeoffs) e o potencial para consequências indesejadas.
Vamos aprofundar cada uma delas
Lei 1 – O comportamento tende a seguir o staus quo, a não ser que exista uma diminuição da fricção ou aumento de combustível
Nós escolhemos a estrada mais percorrida, ou a estrada melhor pavimentada. Portanto, a maior parte do nosso comportamento é executado em piloto automático e é necessário um grau significativo de esforço para executar ações simples fora da nossa rotina normal – mesmo quando temos as melhores intenções de mudar o nosso comportamento. Pense em quantas vezes já resolveu começar a ir de bicicleta para o trabalho e quantas vezes você realmente o fez. Há um viés que compartilhamos que descreve porque somos tão maus a alterar comportamentos e chama-se viés de status quo. O status quo é uma força poderosa no comportamento humano, diretamente análoga à inércia descrita pela primeira lei do movimento de Newton: a força é necessária para que ocorra uma mudança de movimento.
Existem dois tipos principais de forças no contexto do comportamento humano, assim como existem na física: forças que atrapalham a execução de um comportamento são chamadas de “fricção” – desde o sentimento de exaustão quando é hora de fazer desporto até às dificuldades encontradas ao tentar marcar uma consulta médica de rotina. “Combustível” é o segundo tipo de força, representando qualquer coisa que torne um comportamento mais atraente – desde ensinar as crianças a programar utilizando jogos até à entrega de incentivos condicionados ao bom comportamento. Como o desafio da competição como substituição de recompensa para incentivar o exercício.
A fricção diminui a velocidade e o combustível empurra para a frente. A não ser que existam mudanças no atrito ou no combustível, tendemos a manter o status quo. Mas pelo mesmo princípio, mudanças no comportamento podem ocorrer através de mudanças no combustível e no atrito.
Lei 2 – O comportamento é função da pessoa e do seu ambiente, C = ƒ (P,A)
O Comportamento não é algo que vive no vácuo. É a combinação de uma pessoa – com todas as suas intenções, crenças, conhecimento, motivação, personalidade, história, etc – e o seu ambiente – incluindo tudo, desde a arquitetura escolhida de uma fila de caixas de supermercado até às luzes, cheiros e amigos ou inimigos ao seu redor. É uma mistura especial desses dois tipos de ingredientes, a pessoa e o seu ambiente, que leva a um comportamento específico que ocorre num local a uma determinada hora.
Kurt Lewin é famoso por atribuir o comportamento humano a esses dois elementos essenciais: as características individuais ou o estado de uma pessoa e o ambiente em que estão situadas. A sua equação universal C = ƒ (P, A) remonta a 1936 e não é menos relevante hoje.
Mais importante do que conhecer a pessoa e o ambiente é saber o que vai fazer a pessoa nesse ambiente, não devendo as variáveis ser analisadas de forma independente. Se queremos perceber o seu comportamento temos de perceber o contexto, incluindo as emoções da pessoa naquele momento (P) e naquele ambiente (A).
Lei 3 – Para cada decisão tomada, existem compromissos (tradeoffs) e o potencial para consequências indesejadas
Tradeoffs
Existem custos e benefícios associados a cada decisão. Às vezes, podemos pesar ativamente os prós e os contras de uma decisão e outras vezes não. Porém, independentemente da nossa atenção às compensações inerentes a qualquer decisão, geralmente há perdas sofridas numa área quando existem ganhos obtidos noutra. Podemos considerar a opção de fazer horas extra para ganhar mais algum dinheiro ou sair a horas para ir buscar o filho à escola.
Esse conceito de “quais são todas as coisas de que eu vou ter de desistir se fizer X?” É conhecido como custo de oportunidade e é um tipo de troca que geralmente ignoramos. Uma maneira de avaliar compensações como essas é classificar os possíveis prós e contras de uma decisão e depois ponderá-los. Quando as situações são complexas e envolvem um certo grau de incerteza, podemos usar esse método para considerar as compensações de uma decisão específica. Como o nosso tempo e recursos são limitados, temos que escolher como gastá-los com sabedoria.
Consequências não intencionais
Consequências não intencionais estão relacionadas a tradeoffs. Assim como os prós e os contras de todas as decisões que não vemos, pode haver alguns efeitos imprevistos causados pela decisão. Ao tomar uma decisão, podemos não prever efeitos futuros que neguem ou prejudiquem os aspetos positivos dessa decisão. Um exemplo clássico disso é o efeito de “crowding out” ou super-justificação, onde um comportamento positivo (inscrever-se no ginásio) é inicialmente impulsionado com um incentivo extrínseco (por exemplo, desconto de 50% nos primeiros 2 meses), mas quando o incentivo desaparece fica a sensação de que aumentou o preço do ginásio, levando a pessoa a desistir e a dizer aos amigos que aquele ginásio é muito caro. Recompensas como essa podem aumentar um comportamento no curto prazo, mas prejudicar o comportamento no longo prazo.
Muitas vezes, as nossas ações têm efeitos que vão além do impacto sobre nós mesmos. Esses tipos de efeitos sobre terceiros são chamados de externalidades, e as externalidades podem variar da poluição produzida por carros ou fábricas de carvão à sua decisão de tocar música escandalosamente alta, que os seus vizinhos podem não apreciar muito quando tentam ter algum descanso.
Como as propriedades físicas do universo, o comportamento humano é complicado. E assim como as Leis de Newton descrevem o movimento de objetos físicos, essas Leis do Comportamento Humano visam fornecer um modelo geral de como os seres humanos se comportam. As pessoas tendem a manter o status quo, a menos que as forças de atrito ou combustível nos afastem do caminho; o comportamento é uma função da pessoa e do seu ambiente; toda a decisão inclui tradeoffs e o potencial de consequências não intencionais. Se mantivermos essas três leis em mente, poderemos projetar produtos melhores para as pessoas, para ajudá-las a se comportarem melhor – não apenas nos laboratórios das universidades, mas nas empresas e na sua vida pessoal.
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