Não pretendo de forma alguma estragar a surpresa a quem ainda não teve a oportunidade de ver este filme. “A Gaiola Dourada” é sem dúvida um dos filmes mais interessantes dos últimos tempos.
Retratando muito bem a realidade emigrante, sem exageros e sem ridicularizar os portugueses, mostra alguns dos valores que nos são muito queridos, tais como o estar sempre pronto a ajudar, o querer fazer as coisas bem feitas, a disponibilidade para os outros e a capacidade de trabalhar arduamente.
Apesar das crises, dos factores externos e de problemas sobejamente conhecidos, os portugueses sempre tiveram esta vontade de empreender. Sempre fomos destemidos, porque muitas vezes era a nossa única opção e não podíamos fazer mais nada senão arriscar. Existem portugueses em todos os cantos do mundo, são reconhecidos por serem inovadores e trabalhadores, damos “cartas” em muitas áreas que nós próprios desconhecemos.
O filme fez-me no entanto pensar em quantos de nós estamos presos em gaiolas douradas…
Muitos empreendedores criam o seu próprio emprego, muitas empresas vivem, de tempos a tempos, as dores de crescimento normais do negócio, muitos ficam de tal forma específicos que se torna difícil avançarem para outros nichos. Mas há outras gaiolas douradas, muitas vezes criadas pela nossa própria dificuldade em gerir outras tarefas, em delegar e em passar a outros as nossas tarefas, no medo de abraçar novos desafios.
Criação do próprio emprego
Este é um dos maiores desafios dos empreendedores. Passar de ser trabalhador por conta de outrem para ser trabalhador por conta própria é difícil, mas nos dias de hoje em muitos negócios e start ups existem poucos empregados e muitas vezes um único!
Esta é a primeira gaiola onde vemos muitos empresários. Trabalhos muito técnicos e especializados onde uma única pessoa tem de tratar de tudo, desde o marketing às vendas e contabilidade.
Chega-se depois a uma altura em que temos de partir para outro patamar. E ao mesmo tempo que a facturação vai aumentando, fazem-se investimentos e conseguem-se algumas vitórias, como um contabilista para a empresa, por exemplo. E assim gasta-se menos tempo a tratar da “papelada financeira”. Muitas vezes consegue-se até uma empresa de marketing que possa tratar do branding e da imagem, ou da publicidade para pôr empresa em destaque.
E depois, caso seja possível, um comercial, depois outro e mais outro para garantir cobertura nacional da empresa. Se for uma empresa cujo know-how esteja mais centrada no responsável, então terá de ser escalado esse conhecimento para outros na empresa.
Delegar
Este é o maior desafio… delegar tarefas e funções! Quer seja empresário ou responsável de uma equipa, o desafio é enorme. Todos temos imenso orgulho no que fazemos e acreditamos que esse empenho e toque pessoal é sempre importante na escolha de uma empresa com quem trabalhar, num serviço a contratar ou confiar.
Delegar não é abdicar. Terá de ser feito de forma continuada e sempre recorrendo a feedback.
Se estamos a falar em conhecimento puro, veja que funções ainda faz que poderiam ser delegadas a outras pessoas, as que têm menos risco e podem ser replicadas facilmente. Assim, mantém-se nas suas tarefas aquilo que é tão especial a fazer.
Quando falamos de responsáveis de empresa, ou de equipas, temos em primeiro lugar de descobrir quem são os talentos da nossa equipa. Quais os colaboradores a quem podemos delegar com confiança certas funções? E que funções escolhemos para serem delegadas? Sabendo as competências dos nossos colaboradores, sabemos a quais dar determinadas funções e quais os que não estão preparados para as assumir. E temos de confiar que vão realizar essas funções com o mesmo profissionalismo que nós.
Ficar numa gaiola ou redoma porque receamos crescer transforma-se muitas vezes num pesadelo e no declínio de algumas empresas. Desde que exista capacidade instalada para crescer, tem de se apostar na equipa e no seu desenvolvimento.
Quando bem orientados, eles poderão surpreendê-lo pela positiva.
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