Numa reunião numa empresa, o empresário explicava-me uma situação complexa que tinha e para a qual precisava de tomar uma decisão. Era elevado o nível de incerteza em relação à evolução da tendência, mas sabia que tinha de tomar uma decisão rapidamente.
O empresário estava nitidamente incomodado porque não era capaz de tomar a decisão (era nitidamente avesso ao risco), mas tinha noção do impacto que poderia ter no negócio.
Ele dizia que como não conseguia tomar uma decisão, esperava que eu o ajudasse a analisar a situação para poder decidir melhor.
Este empresário ficou bastante admirado quando lhe disse que na realidade ele já tinha tomado uma decisão no momento quem decidiu que necessitava de mais informação, para poder decidir e que queria uma segunda opinião.
Pode parecer uma questão filosófica, mas a própria decisão de não decidir é em si uma decisão. O reconhecer que necessita de mais informação e duma perspetiva diferente já é uma decisão.
Apesar de não resolver o problema inicial, ajuda a traçar um caminho que nos tranquiliza no processo de decisão.
Somos frequentemente forçados a tomar decisões com base em informações limitadas ou ambíguas. No início de um projeto, por exemplo, quando os pormenores ainda estão por clarificar, temos de ser audaciosos a decidir, principalmente porque essas decisões são as que têm as consequências mais importantes. No final de um projeto, já sabemos mais e temos menos dúvidas, mas nessa altura já não existe nada de fundamental para decidir.
O modelo de Kreiner e Christensen representa essa discrepância entre a informação disponível e as consequências das decisões tomadas ao longo do tempo.
Os autores incentivam-nos a sermos corajosos e a tomar decisões com base em pouca informação disponível.
Claro que, para uma pessoa avessa ao risco, qualquer tomada de decisão em contexto de incerteza é sempre um problema. Mas na realidade quantas vezes podemos tomar decisões com toda a certeza?
Ainda que sejamos muito conservadores e analíticos, confiando sempre no que as evidências nos mostram e no que os números nos indicam, a função de gestão implica tomar decisões mesmo em contexto de incerteza, sendo sempre valorizados os gestores mais visionários.
O risco existe sempre, uma má decisão pode ser ruinosa para a empresa, mas uma hesitação ou decisão tardia pode também ser catastrófica.
Como dizia Lucile Ball, prefiro arrepender-me das coisas que fiz do que arrepender-me das que nunca fiz.
Na verdade, o empresário já tinha, inconscientemente, tomado uma decisão, apenas esperava uma confirmação. Já tinha falado com o gerente do banco e agora queria a minha opinião. A decisão estava tomada, mas ele iria dormir melhor à noite se várias pessoas confirmassem a sua opinião.
Claramente o assunto estava bem pensado e a informação disponível já era bastante, portanto lá disse o que ele queria ouvir, se fosse eu avançava.
É claro que, se o negócio correr bem ele tomou uma excelente decisão, se correr menos bem foi mal aconselhado. Mas quem anda nesta vida há muitos anos sabe que este risco existe sempre, que somos confrontados todos os dias com decisões que temos de tomar e a indecisão é sempre pior do que uma má decisão.
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