Qualquer empresário ou, posição de chefia, tem constantemente de tomar decisões. Tendo em conta que na maioria das vezes as decisões são tomadas em contextos de incerteza, é preciso muita coragem para poder decidir.
O conceito de coragem já foi bastante discutido na filosofia clássica, no famoso diálogo entre Sócrates e o General Laques, Sócrates desafia Laques a questionar-se sobre o que é a coragem, não ficando clara uma definição de coragem, mesmo por parte dum General Grego que ganhou várias guerras.
A natureza certamente desempenha um papel na determinação de quem tem coragem. Pesquisas na área da neurociência mostram que algumas pessoas têm uma personalidade que procura emoção ou “Tipo T”. As estruturas cerebrais dessas pessoas que procuram sensações parecem ser um pouco diferentes das estruturas cerebrais das pessoas que evitam riscos. As regiões do cérebro que determinavam a tomada de decisões e o autocontrole tinham um córtex mais fino (a camada externa enrugada do cérebro).
Indivíduos do tipo T podem ter menos recetores de dopamina nos seus cérebros para registar sensações de prazer e satisfação e, como tal, podem exigir níveis mais altos de atividade estimulante e de endorfina para se sentirem bem. O seu nível mais alto de testosterona, também pode levar a um estilo de vida mais orientado para o risco. Uma arquitetura neurológica predisposta a assumir riscos, combinada com um forte conjunto de valores que determina o que eles percebem como certo ou errado, pode tornar mais provável, quando a situação exigir, que os Tipo T ajam de maneira corajosa.
Mas mesmo que algumas pessoas possam ser geneticamente mais predispostas do que outras a ter maior capacidade de assumir riscos, isso não significa que elas necessariamente mostrarão mais coragem. Alguns estudos indicam que fatores não biológicos – como a estrutura psicológica, valores e crenças de uma pessoa, juntamente com o condicionamento de modelos iniciais (educação) – podem-nos obrigar a agir em risco para nós mesmos no interesse de proteger outras pessoas.
Kets de Vries (2020) considera que talvez a melhor maneira de pensar em coragem seja tratá-la como um músculo. Algumas pessoas nascem com músculos melhores do que outras, mas todos podem melhorar os seus músculos através de treino e prática. O autor sugere as seguintes técnicas para se encontrar e praticar a coragem:
• Crie cenários: pedir às pessoas que imaginem o pior que lhes poderia acontecer se tomassem uma determinada ação e qual seria o resultado se não agissem. Ao identificar os riscos que estão a correr, as pessoas podem construir imunidade aos seus medos.
• Reconheça o viés da negatividade: muitas pessoas tendem a dar mais atenção aos resultados negativos do que aos positivos. Ao tomar consciência desse comportamento enviesado, podemos ajudar as pessoas a reconhecer e corrigir o viés. É importante garantir que gastamos tanto tempo a analisar os cenários positivos quanto os negativos.
• Fale sobre o medo subjacente: as pessoas que têm medo de agir geralmente têm pouca ou nenhuma confiança em si mesmas. Essa falta de confiança manifesta-se de várias maneiras — por meio da procrastinação, do perfeccionismo, da síndrome do impostor e outros. Abrir-se sobre as próprias dúvidas, expor as próprias vulnerabilidades pode ter um efeito de fortalecimento positivo. Ao identificarmos aquilo de que realmente temos medo, reduzimos o nosso medo da situação, o que nos dá coragem para agir.
• Pratique sair da sua zona de conforto: praticar pequenos atos de coragem de forma consciente e consistente pode ter um efeito cumulativo. Por exemplo, desafiar-se a tomar posição sobre coisas aparentemente pequenas pode fortalecer o hábito de tomar decisões verdadeiramente difíceis e corajosas. Deixar de fumar, alterar hábitos de alimentação ou fazer atividade física com regularidade podem dar o mote para decisões ainda mais corajosas.
• Cuide do seu corpo: o medo é fisicamente desgastante e esses efeitos físicos influenciam efeitos mentais. Muitas das decisões são tomadas em contextos stressantes e é importante conhecer e cuidar o nosso corpo para lidar com a situação. Mesmo numa situação de crise, certifique-se de reservar o tempo necessário para comer bem, fazer exercícios e dormir.
Quanto mais formos capazes de enfrentar os nossos medos, mais facilmente substituiremos as respostas baseadas no medo por respostas corajosas. Mas não se trata apenas de uma luta com o inimigo interno, uma vez que enquanto lutamos contra o nosso medo vamos tomar consciência das alternativas que existem e que muitas vezes são várias as decisões possíveis para um mesmo problema.
Da mesma forma que é preciso coragem para tomar uma decisão, também é preciso coragem para não o fazer e, por estranho que pareça, a melhor opção pode ser mesmo não fazer nada e recolher mais informação antes da tomada de decisão. Em qualquer dos cenários a responsabilidade será sempre do decisor e para tomar qualquer decisão é sempre preciso coragem.
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